Entre tantas épocas do ano para se encontrarem, se conhecerem, se beijarem e começarem o que poderia vir a ser um namoro, um romance ou coisa parecida, eles se conheceram no verão.
Isso poderia ser só um detalhe irrelevante, se eles não morassem em Salvador (em alguns outros lugares o verão é igualmente tentador).
E não bastasse isso, eles ficaram tão próximos e atraídos um pelo outro justamente na época que antecede o carnaval, o que significava uma perigosa equação com pouca perspectiva de dar em resultado positivo/definitivo a curto prazo, pelo menos.
Não era lei de Murphy !! No verão as pessoas ficam mais propensas a saírem de casa, ficam mais bonitas depois de alguma shoras de sol e ficam mais predispostas a extravasar desejos graças a qualquer coisa que ainda não consegui correlacionar com a estação.
Em Salvador, o verão, onde as festas abarrotam a agenda sóciocultural da cidade, torna difícil para muitos assumir uma relação mais séria. É como se a estação do ano interferisse efetivamente no estado civil das pessoas ou na mudança de estado civil. É difícil começar um namoro no verão soteropolitano !!
Além a dificuldade de deixar de sr solteiro no verão, quando alguém fica solteiro por aqui, parece necessitar de um verão inteiro, para si e seus desejos mais superficiais, carnais e banais... uma espécie de período sabático emocional !!
O verão é a estação dos solteiros !! O resto do ano você pode querer (e muitas vzs quer mesmo) estar agarrado tomando um vinho, dançando forró ou indo ao cinema... mas no verão você quer a solidão compartilhada com a multidão de sozinhos felizes (ou aparentemente felizes)!!
Logicamente, isso comporta exceções, caso contrário não teríamos uma regra geral.
Logicamente, isso comporta exceções, caso contrário não teríamos uma regra geral.
Pois bem, o casal da história já havia se visto algumas vezes, quando um deles ainda estava na fase do vinho-cinema-jantar com um outro alguém, e nunca tinham trocado mais de 3 palavras, contando com o "oi" e o "obrigada".
Foi nesse verão, todavia, depois de umas cervejas a mais e de saber da disponibilidade mútua, que ela o convidou pra sair e ele, mesmo sem saber que aquela era a primeira vez que ela tomava a inicativa, foi um gentleman e aceitou de uma forma que até pareceu que o convite havia surgido dele.
Foi nesse verão, todavia, depois de umas cervejas a mais e de saber da disponibilidade mútua, que ela o convidou pra sair e ele, mesmo sem saber que aquela era a primeira vez que ela tomava a inicativa, foi um gentleman e aceitou de uma forma que até pareceu que o convite havia surgido dele.
O primeiro encontro foi incrível: muitas afinidades, perspectivas de vida semelhantes, elogios, charme e química no beijo, seguidos de um telefonema de boa noite e muito tesão desde a despedida.
Ao primeiro seguiram-se outros encontros igualmente arrebatadores; românticos sem serem melados, quentes sem serem íntimso demais e telefonemas cada vez mais atenciosos e frequentes.
No meio-tempo entre os contatos, direito a frio na barriga, idealizações, fantasias perturbadoras, expectativas, enfim tudo que torna um alguém interessante na multidão...
Acontece que já passava da segunda quinzena de janeiro, já estavam no quinto encotnro e como dois adultos haviam expectativas imediatas de ambas as partes; ele queria sexo, ela queria namoro. As cartas foram postas na mesa na semana que antecedia o carnaval e cada um defendeu o que queria. Ela optou por evitar mágoas mais graves e apesar de encontrá-lo e sentir o memso frio na barriga, evitou o sexo... ele pareceu compreender e continuou a ligar pra ela, mas não se viram mais até o carnaval.
No carnaval, se falaram ao telefone, mas também não se viram. Cada um curtiu a festa como quis.
Na quarta-feira de cinzas, que considero um feriado extremamente melancólico, onde um certo "banzo" acomete as pessoas na proporção direta do prazer que tiveram durante a folia momesca, não aconteceu um encontro sugerido nos telefonemas.
A coisa esfriou, enfim. Havia o Carnaval no meio da história desse encontro...e quando o trio passa, pouca coisa segura um soteropolitano(a) longe dele. Como cantou Caetano: "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu." Talvez o banzo da quarta-feira de Cinzas seja também pelo que o trio, sem saber, atropelou ao passar.
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ps.: Não desanimem. Nem todo encontro pré-carnaval acaba assim:
Tem o casal que curte separado e se encontra na quinta-feira, como se retomasse o último capítulo de uma novela, como quem volta de umas férias com saudade do que ficou no ar...
Tem o casal que ao se separarem para curtir sentem tanta saudade que decidem ficar mais juntos do que nunca durante o carnaval e nisso surge um namoro...
Tem o casal que ao ver tanto beijo na boca, depois de tomar umas cervejas, reata durante o carnaval, depois de voltar pra casa e perceber o vazio e a solidão que surgem depois de tirar o abadá...
Tem o casal que nunca se viu e se forma durante a folia, depois que um beijo cala o som do trio, tendo por testemunha uma multidão de desencontros...
Histórias de paixão, romance, aventuras, encontros e desencontros de carnaval não têm fim e são únicas; em geral, elas têm em comum o Carnaval, como aliado ou como mal.
Um comentário:
"Talvez o banzo da quarta-feira de Cinzas seja também pelo que o trio, sem saber, atropelou ao passar." Excelente, Isabelle. Poético, filosófico, melancólico - porém, sem ser trágico. Um abraço.
P.S. - talvez você não se lembre, mas fui seu colega na UFBA (eu era da turma 95.2).
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