29 de dezembro de 2011

E quando o relacionamento acaba sem que o amor tenha ido ?

Como uma pessoa passional, emocional, considero que as escolhas racionais superam tudo em dificuldade na hora das atitudes. E fica mais difícil ainda quando acontecem no âmbito do amor...decisões racionais para questões amorosas são campo fértil para a dor.

Uma vez, há muitos anos, li uma frase atribuída a Caetano que me tocou e ainda toca: " O CORAÇÃO SÓ QUER O QUE ELE QUER". Com o meu coração, pelo menos, tem sido assim, mesmo que doa. Tenho tentado mudar tanto isso ao longo dos anos, após a maturidade que foi surgindo, quanto a dor e quanto ao querer do coração.

Uma amiga me disse que o coração não precisa ser um cavalo selvagem e indomável. O meu foi assim a maior parte da minha vida até aqui, mas isso não quer dizer que eu tenha sido tão feliz quanto possam pensar.

Enfrentar o próprio coração contrariado não é fácil, é árduo, dolorido e complicado. É preciso força, uma dose de esperança, muita ocupação, resiliência e tenacidade. Muita coisa, né ??

São essas coisas que desejo a quem tá segurando uma situação como essa e, pra melhorar, desejo também um novo amor, um novo e reenergizante amor.

7 de junho de 2011

Quantas vezes se escolhe alguém para amar ??

Primeira idossincrasia deste título: a gente escolhe quem vai amar ?
Confesso que por vezes achei que sim e em outras afirmei contundentemente o contrário.
Atualmente, creio que escolhemos primeiro o amor, depois ao acaso, mas com alguma lógica acreditamos que o amor que buscamos está neste alguém que dizemos amar. Depois de um tempo ou descobrimos que era exagero da verdade, uma projeção da vontade intensa de amar ou  percebemos que existe uma ligação intensa com esse outro alguém.

O amor é capaz de fazer revoluções na vida de alguém, de dentro rpa fora e de fora pra dentro. Algumas vezes, o amor bagunça os sonhos, pensamentos, planos e até atitudes. Quem ama, muitas vezes se sente fragilizado, exposto, vulnerável e nos dias de hoje quem gosta de estar vulnerável ??
Não bastasse a dificuldade de cada um em lidar com a vulnerabilidade e mudanças que o amor traz, é preciso lidar com o outro e muitas vezes o outro é um poço de novidades, surpresas, instabilidades, diferenças...ufa !! Às vezes dá um trabalhão.
Por tudo isso, acredito que amar alguém é uma escolha diária, ainda que inconsciente. Todo dia é preciso escolher esse alguém, esse amor, essa relação, com suas facilidades e dificuldades, seu calor e suas berlindas; todo dia é preciso renovar a fé, lustrar o otimisto e escolher. Todos os dias teremos motivos para desistir e para continuar investindo e o amor será na maioria das vezes a razão de persistirmos.
Quando você percebe que ama alguém, não se justifica por razões lógicas; o amor não é lógico. Manter a relação muitas vezes é uma escolha lógica, outras vezes, é apenas uma escolha emocional, motivada tanto pelo amor, quanto pelo medo da solidão.

**E nesse ínterim, apesar de evitar textos confessionais, eu digo a vocês que a despeito de muitas diferenças, questionamentos e vários quilômetros de uma distância geográfica que às vezes é pavorosa, há quase 06 meses eu escolho o mesmo amor todos os dias. Não lido bem com a vulnerabilidade que o amor me traz, por isso quanto mais eu percebo a minha capacidade de me reinventar e conseguir ficar bem se nada der "certo", mais eu consigo insistir, tentar.
Muitas vezes, essa escolha diária me amedronta, nossas diferenças me assustam, algumas características ou planos me afastam e nem sei se ele percebe tudo isso. Eu teria razões lógicas para já ter desistido, mas até agora a razão emocional desperta diariamente uma esperança quase irracional que me faz continuar a investir, a amar, a ser feliz com o sorriso dele e esperar ansiosa por cada reencontro; efeito colateral do amor.
Eu tenho escolhido amar o mesmo homem todos os dias e tenho redescoberto o amor e aprendido um tanto de novidades sobre mim.

28 de março de 2011

Divagação inominada I

Nem todo mundo sabe amar ou consegue vivenciar plenamente uma experiência de amor. Nem todas as pessoas, nem todos os casais. O amor, além de tudo, é uma experiência personalíssima - cada um pensa e sente de um jeito.
Às vezes, queremos amar, mas estamos muito presos a experiências passadas, medos, angústias, mágoas e nos trancamos em nós mesmos, impedindo que a nossa alma saia e se entregue ao amor.

Outras vezes, estamos tão focados em nós mesmos, nossos pontos de vista,m nossas metas, nossas regras que não enxergamos o amor ou queremos aprisiona-lo neste contexto previamente desenhado...e o amor se vai, cansado de tentar puxar essa alma pro mundo, pra vida, para se entregar a ele.
Sob meu ponto de vista, ninguém consegue amar preso em si mesmo, seja por qual motivo for. O individualismo hermético sufoca o amor.
O Amor muda as pessoas e foge dos “ambientes” onde não consegue fluir. Hebert Viana compôs “O amor não sabe esperar...” ; não sabe mesmo. O amor é uma oportunidade, uma dádiva, uma benção...pode ser reconhecido e aproveitado ou simplesmente passar, pois nada garante que estará sempre lá. E por isso, Djavan está pleno de razão quando canta: “não existe amor sem medo.”
Nem todos usam a mesma maneira para expressar amor; nem todos têm a mesma concepção de amor. Quando falamos de relacionamento a dois, aí é que as diferenças emergem com mais frequência, pois envolve muitos valores, concepções e opiniões que nem sempre convergem ou aproximam.

Duas pessoas são duas unidades soltas no mundo. Um casal são duas unidades que formaram um nós e estão juntos no mundo, sem deixarem de ser cada um. Deu pra entender ?? risos. O fato é que ninguém forma um casal com duas unidades isoladas.
Um casal é uma reunião de duas pessoas movidas por um sentimento mútuo e caminhando na vida de mãos dadas... é assim que vejo. Caminhar de mãos dadas significa apoio mútuo, cuidado recíproco consigo, com o outro e com o nós e, aos poucos, esse caminhar pode alinhar os olhares para os mesmos objetivos e sonhos (ou não).
É difícil abrir mão do relacionamento quando se ama. O casal não funciona bem junto, não tem opiniões convergentes sobre questões essenciais, mas mesmo assim, quando há amor, é difícil abrir mão da esperança de tudo ficar bem. Lá no fundo, no fundinho mesmo, fica a pergunta: tento um pouco mais ou desisto? É quando a razão começa a tomar o terreno das decisões e tenta mostrar aos sentimentos que, embora eles tenham se esforçado muito, não estão dando conta de alcançar a felicidade e o bem-estar.
Nessa hora, é preciso esquecer um pouco o nós e ficar no próprio bem-estar, no próprio projeto de vida, anseios, necessidades, desejos... amor que frustra o tempo todo, põe pra baixo intoxica...vira vício.
Quando se quer muito andar de mãos dadas pela vida e quando um sentimento surgiu, balançou suas estruturas e te trouxe pra fora de si na crença que seria desta vez, é difícil aceitar que simplesmente não era bem assim e que você deve se libertar da esperança, dos planos que não se concretizaram e voltar a ser uma só, mas plena de possibilidades de ser e ter o que sempre quis.


Difícil é fazer o coração desistir e saber quando exatamente deve fazer isso...rs

14 de janeiro de 2011

Urgências, prioridades, rotina, oportunidade - E O AMOR SE BASTA ?

Um dia, me disseram que o amor não era o mais importante para se manter uma relação...naquele momento me causou choque, espanto, sobretudo porque na época eu ainda estava sob impacto de uma perda e o amor ganha proporções inimagináveis no pós-perda. Quase 03 anos e muitas sessões de análise lacaniana depois, não me parece tão insensata a afirmação.

Talvez, o único tipo de amor que baste em si mesmo seja o amor platônico, unilateral, que se contenta com a dor de não ser correspondido. Os literários românticos o supervalorizavam e alguém já disse que esse amor e o amor antigo, aquele que se perdeu sem ter acabado e sem ter se exaurido, são os representantes reais do Amor. Discordo, esses são os representantes do amor inacabado, pela metade ou que ficou no meio do caminho.

O amor, infelizmente, não se basta, mesmo que seja intenso, sólido, verdadeiro e recíproco. Infelizmente, as relações humanas são de uma complexidade tamanha que o amor não se basta. O amor precisa ser acompanhado do respeito, da atenção, de uma boa dose de sintonia, de paciência, tolerância e de amizade.

Não acredito num amor que dure sem haver amizade e/ou cumplicidade. Como amar e sentir-se amada sem perceber que faz parte do mundo do outro e que esse outro é parte do seu mundo ? Não acredito em "amor-apêndice": está lá, mas a qualquer momento pode ser extirpado sem problemas.

Não acredito no amor que faz a gente se desamar, se desconstruir para amar ou para ser amado. Isso não é amor; parece mais com desespero, desequilíbrio/exagero.

Acredito no amor que anda de mãos dadas, que se preocupa generosamente consigo e com o outro; no amor que se importa em ser recebido e compreendido. Acredito no amor que quer seguir lado a lado, que não pensa num fim.

Se nos descuidamos, a rotina, os medos, os traumas, o individualismo que tanto preservamos e até a razão excessiva atrapalham, desgastam ou consomem ou o amor.

O amor não é auto-suficiente nem quando já foi descoberto por duas pessoas ao mesmo tempo; ele precisa ser subsidiado, alimentado, fortalecido...é quase como uma casa, que precisa de tijolos fortes e cimento para uni-los. Esqueça até a decoração, mas não esqueça o cimento, a união, porque também no amor há o que é meramente beleza e encantamento e o que é essencial e indispensável. E nem sempre esses conceitos são os mesmos para cada uma das partes.

Cada um tem suas urgências, prioridades, rotina, sonhos...ao amar não se deve perder isso, mas é preciso aprender a conjugar novo tempo verbal: não existirá apenas o eu, deve-se aprender a conjugar a vida também com o "Nós".

Amar nem sempre é uma escolha; viver com amor é.
E mais: o amor não consegue suportar muto tempo sendo deixado em último plano, para o último minuto, para o que sobrar do dia (quando sobrar). O amor também precisa de tempo, investimento. E como amar não é previsível, mas sim uma oportunidade, investir no amor é urgente porque ele não surge todo dia, embora possa ser para todos os dias seguintes.
Me disseram que os motivos do mundo não são mais importantes que o amor...acho lindo, mas nem sempre realista. Não se pode deixar que um amor verdadeiro seja engolido, sufocado ou suplantado pelos motivos do mundo, pelos dissabores e dificuldades da vida, mas para isso é preciso tornar esse amor forte, apertar esse laço, enxergar o outro como se enxerga a si...

Acredito em laços de amor, abraços cúmplices e vidas que seguem de mãos dadas, mas para isso acontecer é preciso mais do que Amor, feliz ou infelizmente.

10 de janeiro de 2011

Vinícius de Moraes

Porque é preciso um tanto de poesia para se levar a vida com mais leveza e esperança...

"Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.
 
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.
 
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
 
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor."

28 de dezembro de 2010

Oswaldo Montenegro - Metade



Metade

Oswaldo Montenegro
Composição: Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.