18 de fevereiro de 2010

Carnaval: o fenômeno da pausa.

No Carnaval de Salvador, a tristeza se recolhe...
É tanta gente esfuziante, alegre, com um sorriso estampado no rosto e pulando livre, leve e solta, que de abadá ou na pipoca qualquer tristeza se constrange.
Quem está na rua tem que ter vocação e disposição para uma alegria instantânea, do contrário de nada adianta o abadá, o cantor ou o trio.
De repente, a desigualdade social é notória, as preocupações não tiraram férias, a falta de grana fica ainda mais óbvia, mas a tristeza não chega perto de quem está ao som do trio.
O trio entorpece mais que a cerveja e por 06 dias tudo mais fica mais simples e a vida simplesmente ganha uma pausa.

O Carnaval estava no meio do caminho

Entre tantas épocas do ano para se encontrarem, se conhecerem, se beijarem e começarem o que poderia vir a ser um namoro, um romance ou coisa parecida, eles se conheceram no verão.
Isso poderia ser só um detalhe irrelevante, se eles não morassem em Salvador (em alguns outros lugares o verão é igualmente tentador).
E não bastasse isso, eles ficaram tão próximos e atraídos um pelo outro justamente na época que antecede o carnaval, o que significava uma perigosa equação com pouca perspectiva de dar em resultado positivo/definitivo a curto prazo, pelo menos.

Não era lei de Murphy !! No verão as pessoas ficam mais propensas a saírem de casa, ficam mais bonitas depois de alguma shoras de sol e ficam mais predispostas a extravasar desejos graças a qualquer coisa que ainda não consegui correlacionar com a estação.
Em Salvador, o verão, onde as festas abarrotam a agenda sóciocultural da cidade, torna difícil para muitos assumir uma relação mais séria. É como se a estação do ano interferisse efetivamente no estado civil das pessoas ou na mudança de estado civil. É difícil começar um namoro no verão soteropolitano !!
Além a dificuldade de deixar de sr solteiro no verão, quando alguém fica solteiro por aqui, parece necessitar de um verão inteiro, para si e seus desejos mais superficiais, carnais e banais... uma espécie de período sabático emocional !!
O verão é a estação dos solteiros !! O resto do ano você pode querer (e muitas vzs quer mesmo) estar agarrado tomando um vinho, dançando forró ou indo ao cinema... mas no verão você quer a solidão compartilhada com a multidão de sozinhos felizes (ou aparentemente felizes)!!

Logicamente, isso comporta exceções, caso contrário não teríamos uma regra geral.

Pois bem, o casal da história já havia se visto algumas vezes, quando um deles ainda estava na fase do vinho-cinema-jantar com um outro alguém, e nunca tinham trocado mais de 3 palavras, contando com o "oi" e o "obrigada".

Foi nesse verão, todavia, depois de umas cervejas a mais e de saber da disponibilidade mútua, que ela o convidou pra sair e ele, mesmo sem saber que aquela era a primeira vez que ela tomava a inicativa, foi um gentleman e aceitou de uma forma que até pareceu que o convite havia surgido dele.

O primeiro encontro foi incrível: muitas afinidades, perspectivas de vida semelhantes, elogios, charme e química no beijo, seguidos de um telefonema de boa noite e muito tesão desde a despedida.

Ao primeiro seguiram-se outros encontros igualmente arrebatadores; românticos sem serem melados, quentes sem serem íntimso demais e telefonemas cada vez mais atenciosos e frequentes.

No meio-tempo entre os contatos, direito a frio na barriga, idealizações, fantasias perturbadoras, expectativas, enfim tudo que torna um alguém interessante na multidão...

Acontece que já passava da segunda quinzena de janeiro, já estavam no quinto encotnro e como dois adultos haviam expectativas imediatas de ambas as partes; ele queria sexo, ela queria namoro. As cartas foram postas na mesa na semana que antecedia o carnaval e cada um defendeu o que queria. Ela optou por evitar mágoas mais graves e apesar de encontrá-lo e sentir o memso frio na barriga, evitou o sexo... ele pareceu compreender e continuou a ligar pra ela, mas não se viram mais até o carnaval.

No carnaval, se falaram ao telefone, mas também não se viram. Cada um curtiu a festa como quis.

Na quarta-feira de cinzas, que considero um feriado extremamente melancólico, onde um certo "banzo" acomete as pessoas na proporção direta do prazer que tiveram durante a folia momesca, não aconteceu um encontro sugerido nos telefonemas.

A coisa esfriou, enfim. Havia o Carnaval no meio da história desse encontro...e quando o trio passa, pouca coisa segura um soteropolitano(a) longe dele. Como cantou Caetano:  "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu." Talvez o banzo da quarta-feira de Cinzas seja também pelo que o trio, sem saber, atropelou ao passar.

________________________________________________________
ps.: Não desanimem. Nem todo encontro pré-carnaval acaba assim:

Tem o casal que curte separado e se encontra na quinta-feira, como se retomasse o último capítulo de uma novela, como quem volta de umas férias com saudade do que ficou no ar...

Tem o casal que ao se separarem para curtir sentem tanta saudade que decidem ficar mais juntos do que nunca durante o carnaval e nisso surge um namoro...

Tem o casal que ao ver tanto beijo na boca, depois de tomar umas cervejas, reata durante o carnaval, depois de voltar pra casa e perceber o vazio e a solidão que surgem depois de tirar o abadá...

Tem o casal que nunca se viu e se forma durante a folia, depois que um beijo cala o som do trio, tendo por testemunha uma multidão de desencontros...

Histórias de paixão, romance, aventuras, encontros e desencontros de carnaval não têm fim e são únicas; em geral, elas têm em comum o Carnaval,  como aliado ou como mal.

9 de fevereiro de 2010

Uma menina baiana no carnaval.

Para quem nasce e é criado na Bahia, especialmente em Salvador, é quase impossível manter-se imune aos efeitos do Carnaval. Querendo ou não, o baiano acaba formando uma opinião sobre o carnaval. Tem os que amam e os que odeiam o fervor da cidade nesta época. Aqui não dá para não notar que é carnaval !!!

 
Em Salvador, provavelmente mais do que outros lugares, o ano começa mesmo depois da quarta-feira de cinzas. Nos dias de carnaval, é aqui que acontece a maior festa popular do planeta (de acordo com o Guiness) e foi aqui que surgiu o trio elétrico, os novos baianos, a guitarra baiana e a axé music (entre outras variações sobre o tema "música de carnaval baiano").

Eu nasci numa família que tinha um bloco de carnaval !! Pois é, não bastasse ter nascido "menina baiana", meus tios tinham um bloco e (acreditem!) ainda bem pequena lembro de ter ido parar em cima do trio a contragosto do meu pai mineiro. Eu lembro mesmo...do som do "varre, varre vassourinha", das sombrinhas , mamãe-sacode e do verde/branco da fantasia feita com o tecido da mortalha. Depois dessa experiência tão rica e precoce, passei alguns anos vendo o carnaval pela televisão, a contragosto, mas muito atenta.

Poucos carnavais depois de eu ter nascido o bloco dos meus tios acabou e eles passaram a sair nos Internacionais, num tempo em que lá só saíam homens e a fantasia. Lembro de como eu os achava lindos naquelas fantasias que os homens de hoje não ostentariam com tanto orgulho  e me contentava em ir com minha mãe e minha tia acompanha-los até a concentração do bloco.

Naqueles tempos, carnaval pra mim era apenas uma festa colorida e divertida que passava pela televisão e da qual eu queria muito participar, mesmo sem saber porque ela acontecia.
Muito antes de vestir um abadá, fui baiana, bailarina, odalisca e outras tantas fantasias acompanhadas de confete e serpentina...foi de Odalisca que ouvi Netinho cantar a história da Uva no céu da sua boca...rs

Apesar de vir de uma família de chicleteiros e de ter vestido o abadá pela 1ª vez para curtir o Chiclete com minha mãe (depois de uma insistência dramática), eu debandei e me tornei fã do Asa. Meu primeiro carnaval com Durval foi o meu 2º de bloco e foi o máximo !! Adoro a Timbalada, mas não pra pular o carnaval no chão.Depois, veio o Jammil e acabei me tornando "Iveteira" com vários carnavais no Cerveja e Cia e Corujas.
Minhas melhores lembranças de carnaval são as minhas amigas; sempre pensei no carnaval como um momento da amizade, brincadeira, gargalhadas e curtição. Nos meus carnavais não havia espaço pra nada muito sério, grave, urgente ou pesado, mas já sofri de mal de amor no carnaval, já chorei no relógio de S. Pedro e já vivi momentos de muito amor nos carnavais em que estava namorando. Aliás, nada como uma chuva de carnaval agarrada no seu amor !!
Nunca vivi o carnaval como se não fosse haver amanhã; não precisa tanto pra ser divertido.
Já ri á toa e tomei muitos banhos nos chuveirões que eram instalados em tempos de água farta !!
Já voltei com o rosto cor-de-rosa depois de seguir os Corujas na avenida.
Já beijei no carnaval como se fosse o último beijo da minha vida !
Sempre procurei estar atenta no carnaval e os anjos que me guardam ficam bem atentos (Graças a Deus !).
Nunca acreditei em grandes amores nascidos no carnaval; nunca procurei, nem encontrei esse tipo de surpresa, embora saiba que existe !! Mesmo assim, já vivi romances que só duraram um dia de carnaval e fiquei bem feliz !
Sempre pulei o carnaval pensando numa oportunidade para ser alegre com pessoas queridas sem pensar em trabalho, sonhos, metas e afins... um portal para fora do cotidiano, um período quase sabático !! Afinal, se precisasse de um motivo ou objetivo, o carnaval não seria tão divertido.
E é assim que continuo encarando o carnaval...uma chance pra rir à toa sem ter que haver um porquê !!

*********************
E PRA VOCÊ:? O QUE É O CARNAVAL ? QUAL A SUA MELHOR LEMBRANÇA ?