14 de janeiro de 2011

Urgências, prioridades, rotina, oportunidade - E O AMOR SE BASTA ?

Um dia, me disseram que o amor não era o mais importante para se manter uma relação...naquele momento me causou choque, espanto, sobretudo porque na época eu ainda estava sob impacto de uma perda e o amor ganha proporções inimagináveis no pós-perda. Quase 03 anos e muitas sessões de análise lacaniana depois, não me parece tão insensata a afirmação.

Talvez, o único tipo de amor que baste em si mesmo seja o amor platônico, unilateral, que se contenta com a dor de não ser correspondido. Os literários românticos o supervalorizavam e alguém já disse que esse amor e o amor antigo, aquele que se perdeu sem ter acabado e sem ter se exaurido, são os representantes reais do Amor. Discordo, esses são os representantes do amor inacabado, pela metade ou que ficou no meio do caminho.

O amor, infelizmente, não se basta, mesmo que seja intenso, sólido, verdadeiro e recíproco. Infelizmente, as relações humanas são de uma complexidade tamanha que o amor não se basta. O amor precisa ser acompanhado do respeito, da atenção, de uma boa dose de sintonia, de paciência, tolerância e de amizade.

Não acredito num amor que dure sem haver amizade e/ou cumplicidade. Como amar e sentir-se amada sem perceber que faz parte do mundo do outro e que esse outro é parte do seu mundo ? Não acredito em "amor-apêndice": está lá, mas a qualquer momento pode ser extirpado sem problemas.

Não acredito no amor que faz a gente se desamar, se desconstruir para amar ou para ser amado. Isso não é amor; parece mais com desespero, desequilíbrio/exagero.

Acredito no amor que anda de mãos dadas, que se preocupa generosamente consigo e com o outro; no amor que se importa em ser recebido e compreendido. Acredito no amor que quer seguir lado a lado, que não pensa num fim.

Se nos descuidamos, a rotina, os medos, os traumas, o individualismo que tanto preservamos e até a razão excessiva atrapalham, desgastam ou consomem ou o amor.

O amor não é auto-suficiente nem quando já foi descoberto por duas pessoas ao mesmo tempo; ele precisa ser subsidiado, alimentado, fortalecido...é quase como uma casa, que precisa de tijolos fortes e cimento para uni-los. Esqueça até a decoração, mas não esqueça o cimento, a união, porque também no amor há o que é meramente beleza e encantamento e o que é essencial e indispensável. E nem sempre esses conceitos são os mesmos para cada uma das partes.

Cada um tem suas urgências, prioridades, rotina, sonhos...ao amar não se deve perder isso, mas é preciso aprender a conjugar novo tempo verbal: não existirá apenas o eu, deve-se aprender a conjugar a vida também com o "Nós".

Amar nem sempre é uma escolha; viver com amor é.
E mais: o amor não consegue suportar muto tempo sendo deixado em último plano, para o último minuto, para o que sobrar do dia (quando sobrar). O amor também precisa de tempo, investimento. E como amar não é previsível, mas sim uma oportunidade, investir no amor é urgente porque ele não surge todo dia, embora possa ser para todos os dias seguintes.
Me disseram que os motivos do mundo não são mais importantes que o amor...acho lindo, mas nem sempre realista. Não se pode deixar que um amor verdadeiro seja engolido, sufocado ou suplantado pelos motivos do mundo, pelos dissabores e dificuldades da vida, mas para isso é preciso tornar esse amor forte, apertar esse laço, enxergar o outro como se enxerga a si...

Acredito em laços de amor, abraços cúmplices e vidas que seguem de mãos dadas, mas para isso acontecer é preciso mais do que Amor, feliz ou infelizmente.

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